Senhor Presidente,
Senhoras e Senhores Senadores,
O que discutimos hoje com a PEC 55 não é apenas uma questão de orçamento. É uma questão de segurança e soberania nacional.
Vivemos a era mais veloz da história. A Turquia, que há 15 anos não tinha tradição em drones, hoje exporta para mais de 30 países. Israel lidera o setor. A China avança em sistemas hipersônicos.
E o Brasil?
Enquanto o mundo acelera, o Brasil assiste passivamente. Tal inércia cria um abismo tecnológico que poderá inviabilizar uma resposta efetiva quando necessário. Veja nosso recente histórico espacial. O programa dos satélites sino-brasileiros com a China foi vanguarda e hoje a China desponta nesse setor globalmente, enquanto o Brasil continua importador dessa relevante tecnologia.
A Stella Tecnologia prova que o Brasil pode mais. Desenvolvemos o maior drone do hemisfério sul, o Atobá, com 700 quilos de peso máximo de decolagem, 11 metros de envergadura e mais de 24 horas de autonomia. Uma plataforma 100% nacional, desenvolvida com uma pequena parcela comparada aos investimentos dispendidos por países estrangeiros em projetos semelhantes.
E não estamos sozinhos nesse esforço. Empresas como a Aeroconcepts, que fabrica turbinas no Brasil, trabalham em conjunto com a Stella Tecnologia no desenvolvimento de plataformas aéreas avançadas. Esta colaboração demonstra que o país já possui capacidade industrial para integrar sistemas críticos e estratégicos, consolidando um ecossistema de defesa verdadeiramente nacional.
Senhores Senadores, cada Real gasto em tecnologia estrangeira é um Real perdido em prestígio e investimento na indústria nacional. Assim como a Embraer colocou o Brasil no mapa no setor aeronáutico, os nossos drones podem ser a próxima vitrine de poder, inovação e dissuasão contra anseios oportunistas.
A velocidade dos acontecimentos internacionais gera uma imprevisibilidade imensa. Guerras rompem em semanas, cadeias logísticas colapsam em dias, tecnologias disruptivas surgem a cada hora. Só há uma forma de enfrentar isso: estar preparado.
E estar preparado significa investir hoje e manter investimentos constantes. Amanhã será tarde. Investir em drones e indústrias nacionais é resguardar autonomia, blindar-se de instabilidades estrangeiras e assegurar a nossa soberania.
Os benefícios diretos ao Brasil são claros:
- Centenas de empregos diretos de alta qualificação;
- Milhares de empregos indiretos em toda a cadeia produtiva: eletrônica, materiais compostos, softwares de inteligência artificial;
- Integração com universidades e centros de pesquisa;
- Redução da evasão de divisas, mantendo o investimento no Brasil.
- E sobretudo reduzir a fuga de jovens talentos que, de outra forma, partiriam para o exterior e talvez nunca mais retornassem.
E aqui cabe uma reflexão simbólica: ao negligenciarmos nossa própria capacidade e optarmos por comprar no exterior aquilo que poderíamos desenvolver em casa, repetimos a cena de nossos povos indígenas que trocavam pepitas de ouro por miçangas com os colonizadores. As pepitas de ouro, hoje, são nossos jovens talentos e nossa soberania; as miçangas são tecnologias importadas que poderíamos facilmente produzir aqui, mas lamentavelmente deixamos de fazê-lo.
E mais: nosso diferencial é a adequação. Ao contrário dos sistemas estrangeiros, rígidos e padronizados, o produto nacional é desenvolvido para atender às necessidades específicas do país que o produziu:
- Vigilância da Amazônia,
- Monitoramento da costa marítima,
- Patrulha de fronteiras,
- Patrulha contra a pesca ilegal, e vazamentos de petróleo.
O Brasil tem uma tradição aeronáutica respeitada no mundo. Mas essa tradição não pode ficar no passado. Precisa ser projetada para o futuro com novas tecnologias e novos sistemas.
Ajustar a PEC 55 é essencial porque dará ao Ministério da Defesa a previsibilidade orçamentária necessária para transformar capacidade em poder real. Sem ela, ficaremos condenados a sempre comprar, nunca produzir; sempre depender, nunca liderar.
Senhoras e Senhores, não podemos mais assistir passivamente. O Brasil precisa agir. Precisa agir agora.
Muito obrigado.