O desenvolvimento de aeronaves eVTOL (decolagem e pouso vertical elétrico) tem impulsionado inovações significativas, mas a escolha da configuração – como empuxo vetorado ou sustentação mais cruzeiro – desempenha um papel crucial no desempenho, eficiência e viabilidade comercial dessas aeronaves. Analisar essas configurações, juntamente com os desafios enfrentados pelas empresas do setor, ajuda a entender por que muitas delas estão lutando para transformar promessas tecnológicas em produtos viáveis.
Os eVTOLs de empuxo vetorado, como o Shield AI V-BAT, utilizam um único sistema de propulsão para todas as fases do voo, inclinando ou girando o vetor de empuxo para transicionar entre decolagem vertical, voo horizontal e pouso. Esse design reduz drasticamente o arrasto aerodinâmico, eliminando a penalidade de carregar rotores inativos durante o cruzeiro. Além disso, o uso de um único motor a combustão no V-BAT simplifica a propulsão em comparação com sistemas totalmente elétricos, que exigem múltiplos motores e um gerenciamento complexo de baterias. Essa abordagem resulta em maior autonomia, confiabilidade e menor carga de manutenção, tornando as plataformas de empuxo vetorado mais adequadas para missões de longo alcance e alta demanda operacional. No entanto, esse conceito exige engenharia avançada para garantir controle preciso nas transições entre os modos de voo, o que pode aumentar os custos iniciais de desenvolvimento.
Por outro lado, os eVTOLs de sustentação mais cruzeiro, como o EVE da Embraer, utilizam rotores dedicados para decolagem e pouso, enquanto asas fixas e uma hélice traseira garantem a propulsão horizontal. Embora essa abordagem simplifique a transição entre os regimes de voo e permita a otimização separada de cada sistema, ela introduz ineficiências significativas. Os rotores de sustentação, uma vez desativados, geram arrasto durante o cruzeiro, reduzindo velocidade e alcance em comparação com configurações de empuxo vetorado. Além disso, o gerenciamento de múltiplos sistemas elétricos consome mais energia e impõe maior estresse térmico nas baterias, limitando ainda mais a eficiência operacional. Essas desvantagens tornam esse tipo de eVTOL menos adequado para missões de longa distância ou alta carga útil.

Desafios Sistêmicos no Setor de eVTOL
Além das questões técnicas, a indústria de eVTOL enfrenta obstáculos estruturais que dificultam a viabilização desses projetos. O custo de desenvolvimento e certificação de um novo modelo pode ultrapassar 1,5 bilhão de dólares, um investimento massivo que poucas empresas conseguem sustentar. Ao mesmo tempo, os rigorosos requisitos regulatórios e de segurança adicionam complexidade ao processo de homologação.
Outro fator que tem prejudicado o setor é a especulação financeira, impulsionada pela onda de investimentos via SPACs (Special Purpose Acquisition Companies), que geraram avaliações inflacionadas e instabilidade no mercado. Como resultado, muitas startups falharam em cumprir suas promessas operacionais e financeiras, revelando que boa parte do entusiasmo inicial não era sustentado por fundamentos sólidos.

O Caso do Orbis eVTOL: Antecipando a Realidade do Setor
Ainda em 2012, desenvolvemos o Orbis eVTOL na Santos Lab, apostando em um conceito inovador de quadrotor dentro de um anel aerodinâmico com perfil assimétrico de alta sustentação. Esse design permitiu uma transição extremamente eficiente entre voo vertical e horizontal, tornando o Orbis um dos projetos mais avançados da época. Apresentado na LAAD 2013, o Orbis gerou um enorme impacto e colocou a Santos Lab como a segunda empresa mais mencionada na mídia, atrás apenas da Embraer.
No entanto, mesmo com o sucesso da demonstração, concluímos que o VTOL não teria eficiência suficiente para se tornar um produto viável. Hoje, observando as dificuldades enfrentadas pelas empresas do setor, fica claro que nossa decisão de 2012 foi acertada. Apenas a Shield AI, com seu V-BAT, conseguiu atingir um nível aceitável de desempenho. A grande maioria dos projetos eVTOL continua limitada por desafios técnicos e estruturais que tornam sua implementação comercial inviável.

Conclusão
Plataformas de empuxo vetorado, como o V-BAT, demonstram clara vantagem sobre as configurações de sustentação mais cruzeiro, graças à sua eficiência aerodinâmica, menor arrasto e maior autonomia. Enquanto o conceito de sustentação mais cruzeiro oferece versatilidade, seus custos elevados, baixa eficiência energética e limitações operacionais restringem sua viabilidade em mercados competitivos.
Combinando os desafios técnicos às barreiras financeiras e regulatórias, torna-se evidente por que a maioria das empresas de eVTOL ainda não conseguiu entregar soluções práticas e sustentáveis, apesar dos bilhões investidos e das promessas de uma revolução na mobilidade aérea.